Congestionamento é um dos desafios mais significativos que as cidades enfrentam atualmente e um dos fatores que mais impactam na qualidade de vida dos moradores.
Melbourne, na Austrália, ganhou durante 7 anos seguidos o prêmio de “cidade mais habitável do mundo” e perdeu esse título no ano passado. Motivo? A cidade está crescendo muito e se tornou a mais congestionada do país.
No Brasil não é muito diferente. São Paulo e Rio de Janeiro fazem parte de um ranking que listou as 10 cidades com mais trânsito do mundo. Quem lidera esse ranking é Moscou, na Rússia.
Uma solução óbvia para o congestionamento do tráfego, causada principalmente por trabalhadores que se deslocam para empregos no centro da cidade durante o horário de pico, é aumentar as opções de locomoção, construindo mais estradas e metros. Mas uma resposta menos óbvia, e potencialmente mais econômica, pode ser aumentar as ofertas de trabalho flexíveis.
Uma maneira muito eficiente de reduzir o trânsito em horários de pico seria justamente oferecendo flexibilidade de horário aos trabalhadores e até mesmo a possibilidade de não sair de casa em alguns dias. Mas atualmente muitos colaboradores ainda não podem trabalhar remotamente e também não conseguem ter flexibilidade de horários.
Mais estradas não resolvem o problema
Tradicionalmente, o congestionamento é simplesmente aceito como ponto de partida de um problema. E a solução para esse problema é sempre apostar em infraestrutura sendo construída para acomodá-lo. No entanto, um relatório sobre os resultados de pesquisas nos EUA sobre a chamada “demanda induzida” explica algo bem importante: “se você der mais possibilidade para as pessoas, elas vão ficar ainda mais tempo no trânsito. Facilitar a condução significa que as pessoas vão fazer mais viagens de carro do que de outra forma”.
Ou seja, quando mais estradas são oferecidas e mais esse tipo de transporte parece uma boa opção, mais pessoas vão andar de carro e a demanda nunca será suprida. Sempre teremos congestionamentos.
Um relatório de 2019 da Infraestrutura da Austrália mostra que o grande número de projetos rodoviários e ferroviários em Sydney e Melbourne, atuais e planejados, não evitará o congestionamento até 2031.
O que o estudo de trabalho flexível encontrou?
O termo trabalho flexível refere-se a acordos que permitem que os funcionários ajustem o número de horas em que trabalham, o padrão dessas horas ou onde trabalham. O trabalho flexível aumentou significativamente nos últimos anos, com muitos benefícios potenciais para funcionários e empregadores. No entanto, poucos estudos examinaram seu potencial para reduzir o congestionamento do tráfego. E essa foi a motivação desse estudo, conduzido por John L Hopkins, do Smart Cities Research Institute.
O estudo, feito na Austrália, entrevistou 263 trabalhadores de dez dos maiores empregadores de Melbourne. Eles foram questionados sobre hábitos de deslocamento, acordos de trabalho flexíveis existentes, atitudes em relação ao trabalho flexível e a natureza das tarefas no trabalho.
A pesquisa mostrou que 64% dos trabalhadores já estavam aproveitando algum tipo de regime de trabalho flexível que lhes permitia trabalhar em um local remoto, geralmente em casa, uma média de 1,1 dias por semana. E 83% deles aprovaram a possibilidade de fazer isso.
Apenas 2% disseram que nenhum de seus trabalhos poderia ser realizado em um local alternativo. A maioria dos participantes, 58%, indicou que poderia fazer pelo menos metade das suas tarefas de trabalho fora do escritório. Cerca de 30% dos trabalhadores indicaram que 80% ou mais de suas tarefas no trabalho poderiam ser executadas remotamente.
O fato é que a gente não precisa mesmo ir até um local fixo para executar o trabalho. Isso porque nossas ferramentas de trabalho estão em um computador (muitas vezes até mesmo no celular) que vai com a gente para qualquer lugar!
A Finlândia mostra o que é possível
O congestionamento urbano é um problema crescente em todo o mundo. Hoje, 55% das pessoas mora em áreas urbanas, um número que deve chegar a 68% até 2050. O uso de veículos também está crescendo rapidamente. Por sorte, o trabalho flexível também está crescendo em todo o mundo!
A Finlândia, pioneira em práticas de trabalho flexíveis, adotou recentemente uma nova Lei sobre o Horário de Trabalho. Isso dará à maioria dos funcionários em período integral o direito de decidir quando e onde eles trabalham por pelo menos metade do horário de trabalho.
A pesquisa feita na Austrália mostrou que, se os 64% dos trabalhadores que agora trabalham remotamente 1,1 dias por semana aumentassem para cinco dias por quinzena, isso poderia reduzir o número trabalhadores diários indo para Melbourne de 572.000 para 440.500 por dia. Se os 36% restantes dos trabalhadores também pudessem trabalhar remotamente 50% das vezes, esse número cairia para cerca de 337.500, uma redução total de 41%.
Nesta era de crescente congestionamento urbano, um aumento nas práticas de trabalho flexíveis tem muito potencial para aliviar a pressão sobre estradas e redes de transporte. Não é hora de nos perguntarmos se todos podemos ser um pouco mais flexíveis?
* Esse post faz parte da parceira entre a HOM e o Adoro Home Office. A HOM é uma empresa especializada em ajudar organizações a implantarem e gerenciarem novos modelos de trabalho a distância. Clique aqui para saber mais.