Como as coisas estão mudando muito rapidamente, acho que esse texto precisa de um contexto. Escrevo no início de maio de 2020, estou na minha casa em Porto Alegre. Moro sozinha desde 2011, faço home office desde 2015 e por aqui a recomendação distanciamento físico começou em meados de março.
Quero dizer que nada nesses cinco anos de home office me preparou para o que estamos vivendo durante essa pandemia de coronavírus. Nada mesmo. O blog Adoro Home Office também tem cinco anos e desde que eu trabalho em casa e mantenho o blog, home office é um assunto bem importante na minha vida. Não só vivendo na prática, mas também pesquisando, descobrindo o que é feito nesse cenário pelo mundo todo, entrevistando gente que trabalha em casa, enfim, buscando entender mais como isso poderia impactar o futuro do trabalho.
Acontece que o futuro do trabalho que eu sempre imaginei nunca envolveu uma pandemia. A gente vive hoje uma realidade distópica que só era prevista mesmo nos livros de ficção. E sabem o que eu percebi? Que todas as dicas, aprendizados, estratégias, movimentos, não valem muito nesse momento.
Tudo mudou
O que funcionava até o início do ano não funciona mais. Nas primeiras duas semanas desse movimento do isolamento, quando muita gente teve ir forçadamente pro home office, eu compartilhei muitas dicas. Dicas do que eu fazia no meu dia a dia. Ter horário, manter uma rotina matinal, trocar de roupa, buscar um espaço adequado para trabalhar, combinar estratégias com os filhos e família e isso parecia o melhor a fazer naquele momento. Compartilhar minhas dicas para que todo mundo pudesse aproveitar o home office da melhor forma.
Hoje (início de maio), cerca de 7 semanas depois do início da recomendação de isolamento no Brasil, percebo que essas estratégias até podem ter ajudado, mas de jeito nenhum vão fazer essa ser uma boa experiência do home office. Porque o home office não é assim. Nossa vida não era assim.
Sabem o que fazia meu home office incrível, apesar de todas as dicas que sempre compartilhei, e que colocava em práticas todos os dias? A liberdade de dar uma caminhada até o supermercado um pouco antes do horário do almoço, encontrar um colega para tomar um café e bater papo ou até mesmo para definir estratégias de algum trabalho conjunto. O horário diário de exercício, quando eu deixava o celular em casa e passava uma ou duas horas do dia desconectada. A feirinha de terça-feira, depois da academia, quando eu aproveitava para encontrar amigos e comer um pãozinho chinês.
Eu perdi as contas de quantas vezes ouvi a seguinte frase nos últimos dias: mas pra você não mudou quase nada né? Mudou tudo! A vida mudou completamente.
Eu agradeço todos os dias por ter a possibilidade de ficar em casa e por continuar tendo clientes e poder seguir trabalhando, pois sei que ficar em casa sem clientes e sem trabalho seria muito pior. E também seria pior precisar sair de casa todos os dias para seguir trabalhando. Então, apesar de tudo, meu formato é, sim, muito bom e agradeço todos os dias.
A dificuldade aumentou
Mas tudo mudou. E está bem mais difícil. Eu sigo mantendo a rotina, mas acordar no horário é mais complicado. Eu tento encaixar um exercício físico no meu dia, mas fazer pilates ou qualquer outro exercício na sala não é a mesma coisa. E sabem o que mais acontece? Eu não consigo mais me desligar. Se alguém manda uma mensagem durante minha “hora do exercício”, eu vou olhar. Essa sensação de urgência é uma droga. Eu penso que pode ser um familiar ou amigo precisando de alguma coisa, algum cliente com alguma demanda urgente, e lá vou eu conferir o WhatsApp durante o que normalmente seria meu tempo de desconexão.
Eu sinto que tenho ficado menos criativa. Eu não tenho mais estímulos externos e hoje vejo o quanto eles eram importantes. Então eu demoro o dobro do tempo nas tarefas comuns. Não tenho mais concentração suficiente. Parece que 30% do meu pensamento está sempre comprometido com a situação coronavírus, independente do que eu faça. E olha que eu sou quase não confiro notícias de portal ou assisto noticiários na televisão. Eu fujo das novidades sobre esse assunto e a preocupação ainda ocupa minha mente.
Meus clientes estão extremamente nervosos e ansiosos. Eu entendo. O negócio deles está em jogo, muitos estão faturando pouco ou quase nada, precisam fazer o máximo que podem para pagar os funcionários. Eu tento ter empatia. Mas isso respinga em mim. Nenhum planejamento dura mais do que uma semana, porque as pessoas mudam de ideia muito rápido. Nenhuma resposta pode esperar o dia seguinte, porque todos estão muito ansiosos. E nisso eu acabo trabalhando sábado, domingo, feriado.
Eu sei que não é o ideal. E tenho mil estratégias para conseguir delimitar esse espaço que seria meu, livre de trabalho, mas nenhuma delas funciona no meio dessa pandemia.
É um esforço diário
Tudo isso pra dizer que tá difícil, viu? Percebi que esse não é um momento legal, não tá sendo maravilhoso poder ficar em casa, não tem muita coisa para aproveitar. Esse pensamento não é pessimista, é só pra gente não se cobrar tanto, sabe? A situação toda não é boa, mas estamos fazendo o possível para ficar bem, para conter os danos. E penso que precisamos disso mesmo. Fazer um esforço diário para seguir no caminho enquanto esperamos essa turbulência passar.
Não sabemos como será a nova realidade, mas precisamos ter em mente que nada está como era antes. Fazer home office não é isso que estamos vivendo. Cito aqui uma expressão que ouvi da Priscila Camacho, do My Freela. Essa experiência está mais para “hell office”.
Eu concordo. Não tenho disposição para aproveitar esse tempo para [ insira aqui qualquer atividade]. Eu mal tenho tempo. Estar em casa não quer dizer ter tempo. Hoje, estar em casa quer dizer: fazer o máximo possível para conter a disseminação do coronavírus. Só isso.
Quando isso passar, eu espero que a gente consiga olhar com outros olhos para o home office. O modelo que fez boa parte da economia continuar funcionando merece mais atenção, sim, e eu juro pra vocês, vai ser uma experiência muito melhor do que está sendo agora. Por enquanto, nada serve de modelo.
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