* Por Antônio Pedro
Vira e mexe sobe um texto na minha timeline de alguém das gerações de cima — os mais antigos, a geração X, os baby boomers, ou como quiserem chamar — apontando dedos e criticando a geração mais nova. Já fomos os mais preguiçosos, os que não toleram ser contrariados e agora somos os mais mimados.
Os textos fazem sucesso, claro. Um sintoma de que muita gente não entendeu que o tempo passa e traz novidades: objetivos diferentes, desejos diferentes e atitudes diferentes. Natural. É por isso que vocês também não usam mais mullets. Ou usam?
Enfim. Para começar, somos menos competitivos. E eu entendo que você ache isso negativo e às vezes até confunda com preguiça. Mas nós somos a geração dos grupos de troca. Dos espaços de trabalho coletivo. Da informação gratuita. Dos eventos colaborativos.
A cada dia há mais informação e a gente já não precisa mais brigar por ela. Isso também gerou novas ocupações, novas demandas e jeitos novos de pensar. Você não pode se irritar porque nós não queremos ficar no escritório de 8 às 18, nem queremos nos matar para poder viajar na aposentadoria. Hoje já existem outras opções.
A gente também tem feito o possível para usar a tecnologia a nosso favor. Para trabalhar — e com resultado, palavra que vocês adoram — não precisa mais estar no mesmo lugar físico, nem trabalhar na mesma hora. Na verdade, não precisa nem se ver. Dá pra produzir de qualquer lugar. E aquele lance da informação deu uma autonomia fantástica para quem quer fazer algo legal. A gente não precisa mais de uma empresa. De uma chancela. Já dá para ir lá e fazer, sendo independente mesmo.
E por isso, dá para tirar férias todo dia. Dá para se aposentar um pouquinho toda semana. Isso não significa que a gente trabalhe menos. Dá para ganhar dinheiro para se sustentar. Eu conheço muita gente assim. Não adianta chamar de filhinho de papai. A não ser que seja para jogar baixo. Na sua época tinha gente que matava dois leões por dia para sobreviver? Sim, na minha também. Se tem uma coisa que não mudou é que continuamos vivendo em um país pobre.
E por falar em dinheiro: vocês ganham mais. Eu tenho certeza disso. Mas gastam mais. Acreditam que o sucesso é ter um carro, ter um apartamento e poder comer em um lugar fodão. E isso custa caro. E na subtração acaba que dá na mesma. É por isso que a gente precisa ganhar menos. E consequentemente se prender menos — e ouvir menos desaforo.
E ganhar menos não é ruim. É uma tendência. Pensa comigo. Cada dia tem mais gente economicamente ativa, os sistemas financeiros atravessam crise atrás de crise. Não é ótimo ter alguém que tope fazer recebendo menos dinheiro em troca? Nós sonhamos menos com uma vaga e mais com um estilo de vida.
E se para isso temos novos hábitos, é porque vem junto do pacote de um modelo que se sustenta de um jeito diferente. Mais start-ups com dois funcionários, menos empresas que fecham o hotel no litoral na festa de final de ano.
Se a gente procrastina? Claro. E muito. Só que a gente faz isso assistindo Netflix. Achamos mais legal do que ficar passando tempo no café, na xerox ou na copa do escritório. Ah, também não somos mais burros. É que a gente se informa no Twitter. Lê no Reddit. Vê palestra no Youtube. A propósito, a gente ainda lê jornal. Só não assina.
Gostamos de aparecer, com certeza. Mas de uma forma mais simples. Enquanto vocês compram carrões, a gente busca seguidores. Faz vídeo idiota no Snapchat. É que, honestamente, é bem mais barato — e no final das contas gera o mesmo efeito: chamar atenção.
Tudo mudou. Os meios de comunicação mudaram. O transporte mudou. O jeito que a gente mora — e que se hospeda. Tá tudo diferente. Você não esperava que as pessoas fossem continuar as mesmas, né?
Só que não adianta assistir a isso tudo repetindo que na sua época era mais difícil. Sim, era. Há muito mais comodidade — pra mim e pra você. Só que não é porque encontraram um jeito mais simples de resolver as coisas que você perde seu mérito ou precisa se ofender.
Eu tenho o maior respeito pelos trabalhadores da geração mais velha. Meus pais são dela. Me criaram, bancaram boa parte dos meus estudos e me abriram portas. Tudo com um puta esforço, eu acompanhei. Mas os tempos mudam. Aceite. Ou então não adianta dizer que é a minha geração que é cheia de mimimi.
* O texto A geração que não entendeu que os tempos são outros foi publicado originalmente no canal do Antônio Pedro no Medium.