* Por Lorena Risse
Posso dizer que tenho uma longa experiência com o home office, pois desde 2012 venho trabalhando neste regime. Comecei justamente quando entrei no mestrado e logo notei os prós e contras de trocar o escritório da empresa pelo escritório de casa.
Muitas pessoas não entendem a pesquisa acadêmica como um trabalho, inclusive os alunos que a fazem. Isso se dá, muitas vezes, pela “flexibilidade” que a realidade de uma bolsa de pesquisa fornece ao aluno, não exigindo presenças fixas em locais e horários. Acredito que essa é a zona de perigo de qualquer trabalhador que realiza as atividades em casa, achar que pode fazer em qualquer hora e não estipular pelo menos um turno pra realmente se dedicar ao que pretende.
Descobri que meu horário mais produtivo é o noturno, gosto de começar às 20h e seguir até onde der, geralmente às 4h. Durante meu curso de mestrado me cobrei muito sobre isso, sobre dormir durante a manhã toda e trabalhar à noite. Passava dias tentando acordar cedo, caindo pelos cantos e sem conseguir render quase nada. Forçava a barra justamente porque sentia uma culpa imensa por “inverter” os horários e morria de ansiedade quando tinha alguma coisa marcada na agenda no horário da manhã.
O fato é, o mundo funciona em horário comercial e você precisa lidar com isso, não precisa se adequar, simplesmente lidar. Sendo assim, se é que posso dar uma sugestão aos leitores do Adoro Home Office, diria para identificarem seu melhor horário de produção e assumi-lo. Lembrem, o perigo está à espreita, esperando nossa dezena de desculpas sobre o horário só para não cumpri-lo.
Apesar de já ter determinado meu horário, de vez em quando aquela culpa volta, deixando bem claro tudo aquilo que o capitalismo feroz nos ensinou: trabalhar oito horas por dia, sem descanso, é o caminho para o sucesso. Bullshit. Cada um de nós possui um processo produtivo e deveria ter o direito de saber disso, deveria ter o direito de trabalhar da melhor forma. Como vimos aqui no Adoro Home Office, existem diversas técnicas que nos ajudam a descobrir este caminho, basta que nos interessemos pelo nosso próprio desenvolvimento.
O local de trabalho também é uma coisa a se pensar, com muita atenção. Já trabalhei na cama, já montei uma mesa portátil com uma mesa de passar roupa e uma cadeira de praia, já trabalhei no sofá e não julgo quem os faz, mas minha produção mudou drasticamente quando passei a sair de casa alguns dias por semana. Se você puder, monte um cantinho pra você, confortável, longe de distrações e que possa chamar de escritório, ou que seu cérebro, simplesmente, reconheça como um território de produção e não de diversão e soneca. Eu fiz isso, montei uma mesa e cadeira para trabalhar em casa, mas não foi o suficiente. Passar a semana inteira em casa, significa, na maioria das vezes, 8 horas por dia, durante 5 dias (grande mito que falarei adiante) da sua semana enfurnado dentro de casa, e isso não é saudável pra ninguém.
Minha sugestão é sair, ver pessoas novas, interagir, isso tudo faz com que a nossa mente oxigene e que as ideias não fiquem atoladas em certo lugares. Aqui no site você também encontrará diversas dicas de locais para trabalhar, a minha dica pessoal em Porto Alegre é a Biblioteca da PUC. O lugar é bonito, confortável, silencioso, dispõe de uma infraestrutura ótima com computadores à disposição e com bom acesso à internet. Foi neste lugar que tive os melhores insights pra minha pesquisa e sempre que volto lá tenho a sensação de que posso ser pega de surpresa de novo.
O mito que falei acima (sobre trabalhar 8h por dia, 40h por semana) é mito mesmo, ninguém consegue reproduzir esse timing ininterruptamente, sem distrações. Isso porque somos humanos, precisamos nos inspirar, sorrir, rir de uma piada, conversar, trocar ideias e isso demanda tempo. Claro que não 7 horas do seu dia inteiro de atividades, mas se permitir e perceber que a liberdade pode ser produtiva sim, é uma das chaves pra se fazer um bom trabalho e melhor, trabalhar bem.
Apesar da convivência com outras pessoas ser importante, aproveite seus momentos solitários, eles também são bons. Tente estipular suas folgas, as cumpra, mesmo que isso pareça impossível. Entenda que há dias bons e ruins, às vezes simplesmente não dá, não rendemos tanto assim, e saber lidar com isso deixa a culpa onde ela deve estar, longe.
Acredito realmente que o regime home office pode revolucionar o mundo (ele já está revolucionando), mas antes precisamos fazer essa revolução em outro lugar, em nós mesmos.
* Lorena Risse é jornalista e hoje se dedica integralmente ao seu curso de Doutorado.