Que tal fazer uma semana de 4 dias de trabalho? Como assim, isso é possível? É sim e algumas empresas já estão adotando essa modalidade. E como funciona? Bem como diz o nome! A semana de dias úteis trabalhados tem só 4 dias e o colaborador tem 3 dias livres na semana. Em alguns casos, quando esse dia livre cai na sexta ou na segunda-feira, temos o famoso fim de semana de 3 dias, tão sonhado por alguns.
Mas como isso começou? Vamos entender melhor.
Como surgiu essa ideia?
Andrew Barnes e Stephanie Jones são autores de “4 Day Week”(ainda não traduzido para o português), o livro que fala sobre como uma semana menor, de menos horas, pode trazer mais produtividade para os negócios.
Quando constatou que em uma jornada de oito horas, a produtividade máxima dos trabalhadores era de no máximo duas horas e meia, Andrew Barnes resolveu pesquisar se trabalhar menos horas não seria mais produtivo. O livro traz a experiência implementada em 2018 na Perpetual Guardian, uma empresa da Nova Zelândia com cerca de 240 funcionários.
Durante o experimento os resultados foram ótimos. A satisfação das pessoas com o trabalho aumentou 5%, o stress caiu em 7% e 24% dos colaboradores disseram que pela primeira na vida estavam conseguindo equilibrar vida pessoal e trabalho.
Atualmente Andrew Barnes comanda uma entidade sem fins lucrativos, a 4 Day Week Global, criada para compartilhar informações com quem tem interesse em saber mais sobre esse modelo.
Pensar em trabalhar menos para produzir mais não é novidade
Essa ideia de trabalhar menos não é novidade e existem registros desde 1930, época da Grande Depressão nos Estados Unidos. O economista John Maynard Keynes, previa que, dentro dos próximos cem anos, a jornada de trabalho diminuiria para cerca de 15 horas semanais, ao invés das mais de 40 horas praticadas na época.
E como funciona na prática?
A empresa escolhe um dia na semana para que toda a equipe fique de folga. Simples assim! Em geral as empresas escolhem dias como terça ou quarta-feira, justamente para não emendar o fim de semana e os setores ficarem muitos dias sem atendimento ou contato com o cliente.
Em países com muitos feriados, como é o caso do Brasil, é preciso um pequeno ajuste. Na ZeeDog, umas das primeiras empresas brasileiras a implementarem o modelo, o acordo é que em semanas com feriados, a equipe não faz o dia extra de folga.
Vantagens e desvantagens
O aumento de produtividade é certamente a grande vantagem. A equipe fica mais feliz, mais disposta, menos estressada, consegue resolver melhor as demandas pessoas no dia de folga e focar no trabalho nos outros dias. A redução dos custos operacionais com o escritório funcionando um dia a menos por semana também é significativa.
Por outro lado, nem todas as empresas podem implementar esse modelo. Alguns negócios precisam funcionar 7 dias na semana ou até 24 horas por dia e não existe a possibilidade de flexibilização. Também é preciso adequar a demanda com a necessidade da empresa e algumas podem observar que uma jornada menor não é suficiente.
A experiência da Microsoft
A Microsoft do Japão resolveu testar esse modelo em 2019. Durante um mês, mais de 2 mil empregados ganharam a sexta-feira de folga. O resultado? Um aumento de 40% na produtividade e um salto na satisfação da força de trabalho – 92,1% dos empregados disseram estar felizes com a semana mais curta.
Pra ajudar nesse período, eles diminuíram as reuniões. A recomendação era que os encontros, quando necessários, fossem de no máximo 30 minutos. Sempre que possível, o ideal era mandar um e-mail ou mensagens pelos aplicativos da empresa.
Países com menores jornadas de trabalho
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) recomenda como padrão 40 horas semanais de trabalho, exatamente a média que temos no Brasil.
Mas temos países pelo mundo com jornadas bem menores, como é o caso da Holanda, que tem uma média de 29,2 horas trabalhadas por semana. Dinamarca, Alemanha, Suíça e Irlanda ficam entre 30 e 35 horas de trabalho por semana.
A primeira-ministra finlandesa Sanna Marin é um exemplo de luta pela redução de jornada e melhor qualidade de vida para os trabalhadores. Ela defende uma jornada de 4 dias por semana, durante 6 horas.
A Finlândia é conhecida pela flexibilização dos horários e jornadas de trabalho. Desde 1996 os empregados tem flexibilidade de mudar seu turno, permitindo que os trabalhadores escolhessem entre entrar três horas antes ou depois do horário estipulado.
Nem todo mundo concorda
É importante ficar por dentro de opiniões contrárias também. Elon Musk, por exemplo, é contra jornada reduzidas. Ele acredita que ninguém muda o mundo trabalhando “apenas” 40 horas por semana.
Um artigo da Inc, assinado por Matt Plummer, também questiona a possibilidade de produzir mais em menos tempo (aqui, se você quiser ler).
Ele sinaliza que a chave para esses ganhos de produtividade não é realmente trabalhar menos. Podemos ser tão produtivos e criativos em seis horas focadas quanto em oito horas desfocadas.
Ele acredita que empresas podem aumentar a produtividade sem diminuir a jornada. A sugestão é experimentar maneiras de se tornar mais eficiente e, se precisar de alguma motivação extra, estabelecer metas ambiciosas para a equipe.
Será que funciona para autônomos?
Os testes foram feitos em empresas, mas será que não dá pra trazer essa experiência para a vida de quem é profissional independente? Acredito que essa seja uma possibilidade muito viável e que vai trazer inúmeros benefícios para sua saúde mental.
Entretanto, a grande barreira aqui é que muito gente vive a realidade de que tempo é dinheiro e quanto mais trabalho, mais dinheiro e segue nessa rotina que pode não ser muito saudável.
O problema é que essa rotina insana de produzir sempre muito e cada vez mais está cobrando preços altos. Não é a toa que tanta gente tem relatado Síndrome de Burnout (ou Síndrome do Esgotamento Profissional), por exemplo.
Então que tal testar essa semana de 4 dias mesmo sendo autônomo? Escolha um dos dias da semana para cuidar de você, da casa, organizar a alimentação da semana. Para compensar, você trabalhar um pouco a mais – ou mais focado – nos outros dias.
Sendo assim, minha sugestão pessoal é que não seja segunda e sexta, dias em que os clientes geralmente querem resolver coisas, entrar em contato, agilizar processos.
Se testar, depois conta aqui como foi sua experiência.
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